OS IMORTAIS*

Imagem: Instagram

Lô foi um deles. Estranho escrever sobre ele no passado, assim, me corrijo: Lô é um deles. E o que isso significa, dizer que alguém é imortal? É simplesmente dizer que são aqueles que se vão, mas ficam. Ficam em nós, em nossas experiências, vivências, as que não esquecemos, marcadas por uma espécie de aura, trazida pela sua arte. Estão presentes em nossas memórias, que formam e reformam nossas experiências; podem até parecer individuais, por nos tocarem no mais íntimo do nosso ser, mas são, sobretudo, memórias e experiências que compartilhamos uns com os outros. Daí toda a força que a arte deixa em nós: ela nos aproxima justamente porque se oferece a todos, ainda que toque cada um de forma singular.

Todo mineiro é um pouco Lô. Talvez porque ele tenha traduzido como ninguém o que há de mais nosso – esse sentimento de pertencimento e travessia, de quietude e vastidão.

Lô traduziu Minas Gerais em suas poesias, à sua maneira, mas de modo tão sublime, que não é possível ouvir Clube da Esquina sem se comover, passando ileso por seus versos. É profundo e melancólico, porque assim são nossas montanhas, parecem mansas em sua passividade, mas são repletas de vida, quietas, mas em movimento, condensando vários tempos, o ontem, o amanhã e o hoje. Como um bom mestre, ele soube lê-las com calma, entendê-las tão bem, a ponto de escutá-las em seu silêncio.

O encontro na esquina, no clube, no Clube da Esquina com os amigos, os olhares, os afetos, permeados pela melodia, permanecem, ainda que em outros formatos. Não só porque há gravações de discos que ainda cantam a voz já ida, mas pelos sentimentos despertados que seguem em vida. A comoção é grande, porque a arte é maior, e o artista, seu meio, que molda e faz nascer tudo isso.

O trem azul segue a todo vapor, numa viagem de ventania. As histórias se formam como constelações, é a vida. Tudo o que você queria ser, Tudo o que você devia ser, Tudo o que você podia ser, Tudo que você consegue ser…Ou nada. Lô é tudo, e vive!

(*) Texto de Maria Rita Pinheiro de Oliveira. Mineira de BH, Mestre em Filosofia, Economista e Analista Internacional

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