Os principais pontos do interrogatório do tenente-coronel Mauro Cid no STF sobre a trama golpista

Dinheiro em caixa de vinho, pressão de Bolsonaro, prisão de Alexandre de Moraes

Enquanto Mauro Cid (e) responde a interrogatório no STF, ele é observado pelo seu ex-chefe, Jair Bolsonaro, sentado no banco dos réus (no fundo à direita). Foto: Reprodução/TV Justiça

Primeiro réu da trama golpista a ser interrogado no Supremo Tribunal Federal (STF), em razão de sua colaboração premiada, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, confirmou nesta segunda-feira (9), os seus depoimentos à Polícia Federal (PF).

A avaliação é de que Cid complicou ainda mais as defesas do ex-presidente e de outros réus, que assim como ele, integram o Núcleo 1 ou núcleo crucial, na Ação Penal (AP) 2668, que apura a tentativa de golpe de Estado denunciada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Coube ao ministro do STF, Alexandre de Moraes, relator da AP 2668, presidir o interrogatório de Mauro Cid.

De acordo com a denúncia da PGR, Mauro Cid integra o “núcleo crucial, de uma organização criminosa que buscava impedir o “regular funcionamento dos Poderes da República e depor o governo legitimamente eleito”, do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva com o objetivo de manter Bolsonaro no poder.

Principais trechos

Entre outras afirmações, Mauro Cid confirmou que Bolsonaro buscava fraude nas urnas para justificar a intervenção militar e o cancelamento da eleição presidencial de 2022.

Ele confirmou também que o então presidente, além de ler e alterar trechos da minuta do golpe, pressionou o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira para produzir um relatório contrário às urnas eletrônicas e ordenou o monitoramento do ministro Alexandre de Moraes.

Segundo Mauro Cid, a minuta do golpe previa a prisão de “vários ministros do STF e do presidente do Senado.”

Ele afirmou que Bolsonaro “enxugou” a minuta, mas manteve a prisão de Alexandre de Moraes. “Somente o senhor ficaria preso”, disse Cid, dirigindo-se a Moraes.

O tenente-coronel complicou também a vida do general Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa derrotada encabeçada por Bolsonaro.

Mauro Cid disse que, foi a pedido de Braga Netto, que entregou ao major Rafael de Oliveira uma caixa de vinho com dinheiro vivo. Dinheiro que, segundo ele, veio do “pessoal do agro”.

O major Rafael de Oliveira integra o grupo conhecido como “kids pretos” (militares das Forças Especiais do Exército). “Recebi (de Braga Netto) no Palácio da Alvorada. Numa caixa de vinho”, relatou Cid.

Oliveira e outros “kids pretos” são suspeitos de integrar um grupo armado que planejava a morte do presidente Lula, do vice Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. O plano foi batizado de “Punhal Verde e Amarelo”.

Segundo Cid, Braga Netto era o principal elo entre Bolsonaro e os acampamentos golpistas, montados em frente aos quartéis do Exército. E que Bolsonaro não fez nada para desmobilizar os acampamentos. “Não fui eu que chamei, não sou eu que vou mandar embora”, teria dito o então presidente.

Abin

A audiência durou cerca de seis horas de audiência. Além de Mauro Cid, o ministro Alexandre de Moraes interrogou o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem sobre as acusações de participação na trama.

Ele negou ter usado a Abin para monitorar ilegalmente a rotina de ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante o governo Bolsonaro.

Após o depoimento de Ramagem, a audiência foi suspensa e será retomada nesta terça-feira (10), às 9h. A previsão é de que os interrogatórios se estendam até sexta-feira (13).

O próximo a depor será o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, apontado por Cid, como o “mais radical” dos conspiradores.

Veja a íntegra do interrogatório do tenente-coronel Mauro Cid:

https://youtu.be/e_2En-Z-kVU


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