Fogo morro acima, água morro abaixo e…povo nas ruas, ninguém segura

O ditado popular que vai no título deste post foi modificado. Há um terceiro termo que foi trocado por “povo na rua”, mas o sentido continua o mesmo.

Ele quer dizer que coisas totalmente previsíveis, dadas como certas ou quando há um desejo muito forte, sempre ocorrem.

Nesta quarta-feira (23) vimos acontecer uma situação que lembra bem o ditado.

Pautada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado estava uma proposta (indecente) de Emenda à Constituição (PEC) determinando que deputados e senadores só poderiam ser processados, por qualquer tipo de crime, após autorização prévia da Câmara dos Deputados ou do Senado.

A PEC da Blindagem, como foi apelidada, já havia tramitado de maneira célere na Câmara.

Ela atropelou projetos sociais urgentes para a população, como o da sonhada isenção do Imposto de Renda para os que ganham até R$ 5 mil, e foi aprovada por 344 votos na terça (16).

De pronto, foi logo encaminhada para o Senado referendá-la.

Mas tamanho escárnio destinado a blindar infratores de toda ordem, bandidos de todo tipo, ladrões, estupradores, traficantes etc, que porventura tivessem um mandato parlamentar, não poderia passar impune.

Três dias antes da CCJ examinar a proposta, a população se mobilizou em todo o Brasil contra o projeto.

Milhares de pessoas ocuparam ruas e praças de suas cidades no domingo (21) para protestar contra o Congresso, mais especificamente contra a PEC da Bandidagem e contra a pretendida anistia para os golpistas.

A pressão funcionou e o resultado foi o que se viu: a comissão do Senado considerou a proposta inconstitucional e a rejeitou por unanimidade.

Foram 26 votos pela rejeição, e nenhum contrário, o que levou o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), a arquivar a PEC.

Acostumados a ver projetos de interesse exclusivamente corporativo, como os aumentos dos próprios salários ou das emendas secretas que movimentam bilhões de reais do Orçamento sem o menor controle etc), passarem como rolo compressor (ou como água morro abaixo…) por cima da sociedade, desta vez os parlamentares foram pegos de surpresa.

Resta saber se aprenderam a lição com a voz das ruas.

Se não aprenderam, as centenas de milhares de pessoas que protestaram no domingo contra a indecorosa e (agora) finada PEC, voltarão com certeza para as ruas, com mais força ainda, caso tentem aprovar a lei que anistia os golpistas.