Desmandos, abuso de poder e conluio entre juízes e procuradores do Ministério Público Federal (MPF). Investigações conduzidas ao arrepio da lei, perseguições a empresários e políticos da esquerda, preferencialmente os ligados ao PT. Negociatas, grampos ilegais, chantagens, desvios e sumiço de (muito) dinheiro. Delações premiadas fraudulentas, prisões sem provas.
Tudo indica que a Operação Lava Jato, sob o comando do ex-juiz federal e hoje senador Sérgio Moro (União Brasil-PR), a partir da 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, a pretexto de combater a corrupção, teve tudo isso e muito mais: impôs enormes prejuízos a empresas importantes da engenharia nacional, contribuiu para o desemprego de quase 5 milhões de trabalhadores e para a perda de investimentos no país estimada em R$ 172 bilhões.
Descrédito da Justiça
Não bastasse ter contribuído para desacreditar a Justiça, para piorar a economia e para a perda da soberania nacional, a Lava Jato ajudou ainda a jogar o país no colo da extrema-direita. Ao contribuir para desestabilizar o governo Dilma e prender sem provas o então ex-presidente Lula, que vinha liderando todas as pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de 2018, ela deixou o caminho livre para Jair Bolsonaro virar presidente e para os extremistas da direita saírem do armário e tomarem o poder de assalto.
STF abre inquérito
Independentemente de Moro já ter virado alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) nesta semana, por decisão do ministro Dias Toffoli, nada impede que o Congresso abra uma CPI para investigar os seus desmandos à frente da 13ª Vara de Curitiba e a infinidade de suspeitas de crimes que recaem sobre seus ombros.
Uma coisa não atrapalha a outra. Ao contrário, ajuda a esclarecer um caso tenebroso que atentou contra o estado democrático de direito, conforme demonstrou a Vaza Jato, o conjunto de reportagens produzidas pelo Intercept Brasil, que foi fundamental para desbaratar o esquema comandado por Moro de 2014 a 2018.
Mas não basta que a eventual CPI investigue apenas o papel do ex-juiz na operação. Todos os que o acompanharam nessa aventura nefasta, como a sua mulher, a deputada federal Rosângela (União Brasil-SP) e o ex-procurador e ex-deputado cassado, Deltan Dallagnol precisam responder pelo que fizeram.
Assim como outros integrantes do MPF, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) e da chamada força-tarefa de Curitiba, como o procurador regional da República Januário Paludo e o ex-procurador Carlos Fernando de Santos Lima, a juíza federal Gabriela Hardt, além do advogado Carlos Zucolotto Júnior, ex-sócio de Rosângela.
Há que se ouvir também as vítimas, os desafetos e os críticos dos métodos persecutórios e parciais adotados por Moro, como o doleiro Alberto Youssef e o ex-deputado paranaense Tony Garcia, que afirmam ter provas da atuação “criminosa” do ex-juiz.
Mais denúncias
O pedido para Moro ser investigado no STF partiu da Procuradoria Geral da República (PGR), que achou pra lá de consistentes as denúncias feitas por Tony Garcia. Também a Polícia Federal (PF) argumentou a favor da investigação na corte.
Nas cerca de 1,5 mil páginas do processo que está nas mãos de Toffoli e que tramita sob sigilo no STF, há diversas outras denúncias feitas por Garcia. Ele já havia antecipado algumas delas ao Brasil 247 e a outros sites jornalísticos. Como ter sido obrigado por Moro a agir como um agente infiltrado da Lava Jato, forçado a gravar autoridades clandestinamente e a prestar depoimentos fictícios para incriminar políticos, empresários, entre outros, tarefas estranhas ao seu acordo de delação.
Garcia diz ter provas e muito mais a revelar. Mas o sigilo imposto ao processo o impede de torná-las públicas. Disse, porém, em entrevista concedida ao ICL Notícias na segunda-feira (15/1), não ter dúvidas de que, uma vez expostas ao Supremo, Sérgio Moro não terá escapatória: será condenado e preso.
É preciso mais o quê, para abrir logo a CPI?