Governo transfere gestão da Sala Minas Gerais ao Sesi prevendo despejo da orquestra de sua sede até o dia 31/7

Quem ganha com o acordo Zema/Fiemg que põe fim à Filarmônica?

A sala de concertos deixará de ser um espaço dedicado exclusivamente à música clássica. Foto: Divulgação

Afinal, quem ganha com o acordo firmado entre o governo Romeu Zema e o Sistema Fiemg, um negócio esdrúxulo, que aponta para o fim da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais?

Com certeza, não será a Filarmônica, que diz ter sido pega de surpresa pela trama e corre o risco de desaparecer. Tampouco ganharão a cultura mineira ou o público que ela vem formando e encantando desde a sua fundação em 2008. O Estado, que investiu milhões na orquestra? Ou será o Sistema Fiemg?

A Filarmônica, como se sabe, foi contemplada há nove anos pelo governo estadual com a Sala Minas Gerais. Um espaço que se transformou na sua sede, e onde, desde então, ela tem se apresentado invariavelmente com lotação esgotada.

O local, além de abrigar uma sala de concerto moderna, pensada para essa finalidade, com tratamento acústico sofisticado e capacidade para mais de 1,4 mil pessoas, conta com salas de ensaio menores, estúdios de gravação, cafés e escritórios.

É esse espaço que Zema, através da Codemig, entregará “de mão beijada” para o Sistema Fiemg explorar, via Sesi Minas.

Pelo acordo, toda a gestão da Sala Minas Gerais e da própria Orquestra Filarmônica mineira ficará submetida à visão ideológica e mercadológica da entidade representativa da indústria mineira.

Uma pequena amostra do que vem por aí, a partir do acordo: 1) a Filarmônica deve desocupar a sua sede até próximo dia 31 de julho; 2) o espaço deixa de ser de dedicação exclusiva à música clássica.

Justificativa x ignorância

O governador justifica o acordo afirmando que o espaço da Filarmônica é subutilizado. Mas o Instituto Cultural Filarmônica contesta o argumento apresentando números consistentes. Ele indica, por exemplo, que a Sala está ocupada durante 270 dias por ano, com as apresentações, ensaios e outras atividades.

Zema defende que a Sala Minas Gerais passe a receber outros tipos de manifestações culturais. Mas ignora que ela foi concebida e construída para atender às especificidades exigidas pela música de sinfônica.

Ele ignora também as premiações recebidas pela Filarmônica, o reconhecimento da crítica nacional e internacional e, principalmente, do público, à excelência do trabalho desenvolvido pela orquestra. 

Zema parece desconhecer que os 90 instrumentistas que integram o grupo são músicos de alto nível, selecionados em Minas Gerais, em outros estados e países.

E que, ao longo desses 16 anos, já foram gravados uma dezena de álbuns (um deles indicado ao Grammy latino), realizados mais de 1,1 mil concertos para um público estimado de quase 1,5 milhão de espectadores, no Brasil e no exterior.

Desprezo

Não é segredo que Zema nunca nutriu simpatia e nem nunca procurou entender a importância da Filarmônica para a disseminação da cultura em Minas Gerais e inseri-la em outras regiões.

Desde a sua primeira campanha para governador (em 2017), o então candidato já criticava o prédio que abriga a sede da Filarmônica.

Talvez, por estar acostumado com a estética de postos de gasolina, ele o via como um desperdício de dinheiro público e o chamava de “monstruosidade que custou milhões”.

Parece que enxergou no acordo com a Fiemg a saída para se livrar da “monstruosidade”. Ainda que ela custe caro para a sociedade e a cultura mineiras.

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8 respostas

  1. A filarmonica de Minas é uma joia que está sendo dada de mão beijada para quem não tem por ela o respeito merecido.

  2. Absurdo total. Absoluta falta de cultura,apenas interesse político partidário.

  3. Estou super decepcionada com essa resolução do governador Zema.
    Como meu conterrâneo, conhecendo seu berço, esperava dele atitudes mais contundentes.
    Será sem dúvida, uma perda muito significativa para a cultura mineira.

  4. Em choque e indignada com tamanho absurdo, protesto veementemente esta afronta a sociedade mineira que sempre apoiou e prestigiou a música erudita.

  5. Nova York, Berlim, Viena, Londres, Paris possuem salas específicas para concertos sinfônicos. Aqui não podemos ter. Não deixam-nos aproximar pelo menos da civilização. Minas não merece este governo chinfrim, ao contrário do ditado popular.

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