O discurso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez na sessão de abertura da 78ª Assembleia Geral da ONU, em Nova York (EUA), foi irretocável sob todos os aspectos e pode ser conferido na íntegra, no post publicado por este Blog, na terça-feira (19/9).
Mas houve uma única nota dissonante, que já é bom deixar claro, não estava no discurso presidencial, mas, sim, no plenário da ONU, de onde sobressaia a figura sinistra do todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
O deputado alagoano fez questão de marcar a sua presença. Uma presença que ficou registrada pela emissora encarregada de transmitir a solenidade, que, volta e meia, não se sabe por qual razão, focalizava a sua imagem, dividindo a atenção da audiência.
Definitivamente, não deu para entender porque Lira estava lá. Um personagem político que não tem nada a ver com os temas que estavam sendo tratados com seriedade pelo presidente brasileiro.
Em diversas oportunidades, Lira já demonstrou a que veio quando entrou para a política e que não possui a menor afinidade ou sequer um pingo de sensibilidade para o que estava sendo dito por Lula naquele momento.
O presidente, como se viu, tratou de assuntos relevantes e fundamentais para o avanço do processo civilizatório no Brasil e no mundo, como o respeito à liberdade de expressão (citando o caso do jornalista australiano Julian Assange*), às causas das minorias, às mulheres, às causas do movimento LGBTQIA+ e dos indígenas, à defesa da Amazônia e do meio ambiente, do desenvolvimento sustentável, ou o combate ao racismo, à fome e às desigualdades sociais.
Lula abordou também o fracasso do neoliberalismo que abriu espaço para o crescimento da extrema-direita no Brasil e no mundo. Mas Lira, que agiu como um parceiro de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro, surfando e se locupletando durante o governo dele, que ajudou a consolidar o bolsonarismo e os seus ideais de violência, misoginia, negacionismo e de aprofundamento da miséria, não só ouviu, como, para espanto geral, aplaudiu a fala de Lula.
Censura
Mas não só isso. Enquanto estava em Nova York, aqui no Brasil, a pedido dele (Lira), a Justiça censurava a agência de jornalismo investigativo “Pública”, mandando retirar do ar uma reportagem feita sobre ele, tendo como fonte sua ex-mulher, Jullyene Lins.
A reportagem apresenta denúncias graves contra o presidente da Câmara, envolvendo violência de gênero e outras que tais. E apesar da censura imposta, ela ainda pode ser conferida no link https://apublica.org/2023/06/ex-mulher-de-arthur-lira-o-acusa-de-violencia-sexual/ , que está salvo, como foto, no Google.
(*) Assange
O jornalista Julian Assange, que foi citado por Lula, é um ativista australiano e fundador do WikiLeaks, está preso na Inglaterra desde 2019, após passar sete anos asilado na Embaixada do Equador. Ele está em um presídio de segurança máxima, por ter exercido o direito à liberdade de expressão.
Oficialmente, ele é acusado pela Justiça dos Estados Unidos de 18 crimes, incluindo espionagem, devido à publicação, em 2010, de mais de 700 mil documentos secretos relacionados às guerras no Iraque e no Afeganistão.
Caso seja considerado culpado, ele pode pegar até 175 anos de prisão, pelo crime de ter divulgado ao mundo, entre outros assuntos tidos como confidenciais, mas relevantes para a opinião pública, a violência estadunidense praticada contra civis e o assassinato de jornalistas durante a invasão do Iraque.