Belo Horizonte está absurdamente mais quente. E também mais seca e poluída. Especialistas alertam que as altas temperaturas vieram para ficar e que, daqui para frente, este deverá ser o novo normal.
Apesar das previsões alarmantes, a cidade continua perdendo suas árvores. Ou por quedas que resultam de falhas de manejo ou por doenças e ações da natureza, como ventania ou tempestade.
Mas também, muitas vezes, elas são cortadas por motivos banais. Quase sempre, com pouca ou nenhuma discussão com a população, que é quem sofre com os efeitos negativos do corte indiscriminado.
Há pouco tempo, por exemplo, a região da Pampulha, no entorno do Mineirão, foi alvo de uma ação intempestiva por parte do poder municipal.
Sem maiores delongas, perdeu-se quase uma centena de árvores. A justificativa oficial para o arboricídio foi patética: a avenida precisava estar limpa de árvores para poder abrigar (ainda que de maneira improvisada) uma corrida de carros da Stock Car.
A corrida aconteceu há cerca de dois meses. Deixou um rastro de destruição verde e a região mais quente e feia. O impacto na vizinhança, provocado pelo barulho e poluição foi enorme, sobretudo para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Menos uma
Na semana passada, foi a vez de um fícus centenário ser eliminado da cena da cidade. Ele estava plantado há décadas na Praça Afonso Arinos, na região central. Compunha a paisagem ao lado de outras duas árvores das mesmas espécie, idade e do mesmo porte, que por ora, conseguiram escapar da fúria da serra-elétrica.
Até outro dia, quem passava por aquele local, se deparava com uma árvore frondosa e podia se deliciar com o frescor proporcionado por sua sombra e com a sua beleza exuberante.
Agora, quem passa por lá, presencia uma cena lamentável, composta por um tronco vigoroso deixado no meio do caminho.
Era uma árvore imensa, que gerava sombras generosas e se contrapunha à paisagem degradada. Imponente, amenizava a poluição e a degradação da capital, que um dia já atendeu pelo nome de cidade-jardim.
Difícil de acreditar
É mesmo difícil de acreditar, mas até meados o século passado, Belo Horizonte era conhecida pela excelente qualidade de seu clima e pela quantidade de árvores que lhe renderam o nome de cidade-jardim.
Foi assim até o início dos anos 1960, quando na calada da noite, o prefeito da ocasião, decidiu cortar de uma só vez 350 (!) exemplares de fícus.
Os fícus datavam da época da fundação da capital. Eram enormes e formavam uma alameda ao longo da avenida Afonso Pena, com o propósito de gerar sombra e embelezar a região central da cidade.
De lá para cá, como se vê, a coisa só piorou.
Vão-se as árvores, e também os córregos e ribeirões, devidamente enterrados por políticos de mentes estreitas e insanas.
A lagoa da Pampulha e a Serra do Curral – dois patrimônios da cidade que poderiam amenizar o calor – agonizam a olhos vistos.
E o pior: não se vê da parte do poder público nenhuma iniciativa para tentar reverter esse quadro e preparar a cidade para o preocupante “novo normal” anunciado pelos especialistas.
Em Belo Horizonte, na área ambiental falta tudo. Entra prefeito, sai prefeito e não se vê bons projetos sendo colocados em prática, nem ações capazes de amenizar o calor e tornar a vida mais suportável na metrópole.
Faltam fontes, bebedouros e mais áreas verdes, sobretudo praças arborizadas e acolhedoras.
Falta também recuperar os córregos e ribeirões, deixá-los correr novamente limpos e a céu aberto.
Tratar da lagoa da Pampulha e preservar a Serra do Curral, providenciando o seu tombamento imediato a fim de colocar um ponto final à sanha devastadora das mineradoras.