General nega que militares tenham facilitado os atos no 8/1. Pode até ser, mas…

Ataque Praça dos Três Poderes

Em audiência na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira (24), o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marcos Amaro, afirmou que os militares não facilitaram os ataques golpistas do 8 de janeiro.

Pode até ser mesmo que naquele fatídico domingo os militares não tenham facilitado a ação da horda fascista, como diz o general. Mas, o que dizer em relação aos quase 70 dias anteriores, o período em que centenas de bolsonaristas ficaram acampados em frente ao Quartel-General do Exército (QGE), em Brasília, turbinados com grana, churrasco e cerveja, sem serem importunados por ninguém? O que se poderia afirmar a respeito? Isso não teria sido uma ajuda considerável e um incentivo aos golpistas para que eles cometessem os crimes na Praça dos Três Poderes?

Afinal, os acampados passaram quase dois meses e meio questionando o resultado das eleições, lamentando a derrota de Bolsonaro, se insurgindo contra a democracia e pregando golpe de Estado à luz do dia. O que Amaro teria a informar a respeito disso? O Exército estava gostando daquela situação? Ele incentivou a turma? Colaborou com eles? Ou apenas fez vista grossa para esses acampamentos, que se multiplicaram pelo país e que, como se veria depois, não passavam de grandes incubadoras de ódio?

Lamentavelmente, ainda não foi dessa vez que tivemos respostas para essas perguntas, pois Amaro limitou-se a explicar burocraticamente que os efetivos militares são acionados pelo grau de ameaça. “Esse grau de ameaça depende de informações corretas sobre o número de manifestantes, de capacidade de invasão. Então nós tivemos os efetivos compatíveis com o nosso conhecimento a respeito dos manifestantes”.

Ora, será que ao longo de todo esse tempo, o serviço de inteligência do Exército não fez nenhum relatório sobre o que estava acontecendo de fato na porta do quartel? Não teve a menor curiosidade de conversar com aquelas pessoas, medir a disposição delas, sentir o clima ou investigar quem estaria por trás financiando o acampamento? Será que os oficiais responsáveis pelo QGE, o general comandante e seus subordinados, e, acima deles, os generais, almirantes e brigadeiros que comandam as Forças `Armadas, não acharam tudo aquilo muito estranho? E, quanto aos então ministros militares, os generais Braga Neto, Augusto Heleno etc e o vice-presidente general Hamilton Mourão? Acharam bonito?

Se nada fizeram, então os militares foram omissos? Se não se omitiram, apoiaram um movimento nitidamente antidemocrático e golpista, que pregava a violência para reverter uma situação política? Ou, se não apoiaram, simplesmente estavam mal informados sobre ele? Quaisquer que venham a ser as respostas para essas perguntas será difícil dormir com o barulho que elas poderão provocar.

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