Não é novidade alguma que a família Bolsonaro tornou-se, da noite para o dia, especialista em prospectar e criar novos, prósperos e não raramente escusos negócios nos mais diversos e inusitados setores. Dono de um patrimônio que já deve estar na casa do bilhão de reais, segundo arriscam a dizer alguns economistas, o clã dos Bolsonaro atua em atividades “empresariais” as mais diversas que, até onde se sabe, passam pelos ramos imobiliário, de relógios, joias, chocolates, “lavanderia” e até mesmo, como ficamos sabendo hoje (11/8), pelo comércio de venda dos presentes oficiais, como os já citados relógios e obras de arte, recebidos pelo então presidente Jair Bolsonaro, o “capo” do agrupamento familiar e de suas tenebrosas teias.
A “lojinha” de comercialização dos mimos presidenciais é, portanto, o mais recente negócio “empreendido” por eles. Veio à tona nesta sexta feira (11) graças à operação realizada pela Polícia Federal (PF), que teve como alvos principais, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e tenente do Exército Osmar Crivelatti; o general do Exército Mauro Cesar Lorena Cid, pai do também ex-ajudante de ordens de Bolsonaro coronel Mauro Cesar Barbosa Cid; e o advogado Frederick Wassef, que já defendeu a família Bolsonaro e ganhou notoriedade ao esconder em sua casa, o suspeitíssimo ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz.
Segundo a PF, eles são suspeitos de utilizar a estrutura do Estado para desviar, por meio de vendas no exterior, bens de alto valor patrimonial, entregues por autoridades estrangeiras em missões oficiais a representantes do Estado brasileiro.
“Os valores obtidos dessas vendas foram convertidos em dinheiro em espécie e ingressaram no patrimônio pessoal dos investigados, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores”, destacou a PF.
Milícias digitais
Segundo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que autorizou a operação da PF, no inquérito sobre as chamadas milícias digitais, na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, “foi criada uma estrutura para desviar os bens de alto valor presenteados por autoridades estrangeiras ao ex-presidente da República, para serem posteriormente evadidos do Brasil, por meio de aeronaves da Força Aérea brasileira e vendidos nos Estados Unidos, fatos que, além de ilícitos criminais, demonstram total desprezo pelo patrimônio histórico brasileiro”.
Joias
Em sua autorização, Moraes cita especificamente o caso das joias vindas da Arábia Saudita em outubro de 2021. As peças foram presentes para o então presidente Jair Bolsonaro e sua esposa, Michelle Bolsonaro, e entraram no país em comitiva do Ministério de Minas e Energia que esteve no Oriente Médio em eventos oficiais.
“Determino a realização de busca e apreensão de computadores, tablets, mídias externa de armazenamento (pen drive, CDs, DVDs, etc.), máquinas fotográficas, quaisquer outros meios eletrônicos de armazenamento de dados, bem como documentos físicos, fotografias e arquivos relacionados à prática delitiva que forem encontrados durante a diligência, sobretudo objetos que tenham relação com os fatos investigados.”
Na decisão, Moraes determina ainda que o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) forneça, no prazo de cinco dias, todos os documentos que instruíram os processos de destinação de bens ao acervo privado de Bolsonaro.
Lucas 12:2
A operação foi batizada pela PF de “Lucas 12:2”. Ela faz alusão ao versículo 12:2 da Bíblia, que diz: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido”. Ainda de acordo com a corporação, os fatos investigados configuram crimes de peculato e lavagem de dinheiro.