Uma semana após o Carnaval e passada a emoção de assistir ao desfile na Sapucaí, já é possível afirmar que a pretendida homenagem da Portela a Milton Nascimento ficou aquém da grandeza de um dos maiores cantores, compositores e expoentes da música brasileira.
O desfile também ficou abaixo da própria tradição da centenária escola de samba, que ostenta o título de maior campeã da história do Carnaval do Rio de Janeiro.
Apesar da quinta colocação assegurada, a Portela apresentou um desfile confuso, de difícil entendimento.
O samba-enredo, por exemplo, à exceção do título – “Cantar Será Buscar o Caminho Que Vai Dar No Sol – uma homenagem a Milton Nascimento”, poucas referências fez à trajetória desse enorme artista, reverenciado em boa parte do planeta.
A noite até que prometia
Pouco antes do desfile, no “esquenta” da escola, o refrão da antológica “Maria Maria” (aê! aê, aê, ê! aê, aê, ê, ê..) mexeu com o público, que levantou-se da arquibancada e entoou o estribilho repetidas vezes em alto e bom som.
Houve quem dissesse que esse mesmo refrão poderia ter sido aproveitado no samba-enredo.
Será que não pensaram nisso? Será que não daria para adaptá-lo, já antevendo que toda a Sapucaí poderia, como o fez, cantá-lo com toda a força dos pulmões e a raça das Marias?
Assim como o samba
Mas, assim como samba, os carros alegóricos, também não colaboraram para destacar ainda mais a figura de Milton.
Do ponto de vista do espectador leigo, na pista, eles apresentaram pouca conexão para com o homenageado.
Em teoria, é possível enxergar tal conexão. Mas, na prática, vê-se que eles apresentaram problemas de concepção, execução e até mesmo de acabamento. (Leia no final deste post, a partir da página 242, a proposta de Carnaval da Portela encaminhada à Liesa e aos jurados).
O que faltou
Faltou, por exemplo, alguma referência ao enorme poeta e compositor Fernando Brant, parceiro brilhante, indissociável de Milton.
Brant é autor de mais de 200 músicas, entre elas, a própria “Maria Maria”, “Canção da América”, Encontros e Despedidas”, “Milagre dos Peixes, “O Que Foi Feito Deverá”, “Paixão e Fé”, “San Vicente”, “Travessia” etc.
Algumas dessas músicas até que estavam presentes no desfile, mas, decerto, foram mal apresentadas.
Outra coisa: onde estava o carro alegórico com os parceiros da longa travessia de Milton? Eles poderiam prescindir do carro, mas por que não estavam em alguma ala? Alguma dúvida de que suas presenças poderiam enriquecer o Carnaval da Portela e o perfil de Milton?
Pode ser que os remanescentes do Clube da Esquina, Beto Guedes, Lô Borges, Márcio Borges,Toninho Horta, Wagner Tiso, entre outros, tenham sido convidados. Mas, por que não aceitaram o convite?
Da mesma forma, por que não estavam presentes no desfile outros grandes nomes da MPB, cujas carreiras se cruzaram com a de Milton?
Artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano e Paulinho da Viola, esse, sim, o grande ausente do desfile.
Como portelense ilustre, Paulinho poderia ter feito as honras da casa e ajudado a escola a anfitrionar o querido Bituca.
Não há dúvida que com eles, a homenagem ganharia um outro status .
Mas ele, Paulinho, e os demais artistas citados, assim como a turma do Clube da Esquina, teriam sido convidados?
Onde se deu o problema? Na agenda de cada um deles? Na organização do desfile da escola? Na direção da Portela? Algum problema político entre os integrantes da Portela?
Por fim
Com as exceções de praxe, brilho mesmo, só o de Milton e o da Águia azul e branca, símbolo da Portela, que tradicionalmente abre os desfiles da centenária escola de samba.
Uma pena, pois perdeu-se uma grande oportunidade de aclamar e eternizar no Carnaval, expressão máxima da cultura brasileira, o nosso Bituca, também conhecido como a “voz de Deus”.
Respostas de 2
Ao meu ver, um dos maiores erros da minha Portela com o Milton Nascimento foi exatamente, a forma como o colocaram naquele carro alegórico. Ele veio praticamente sozinho. Ele está visivelmente e seguro, até por conta de seus problemas de saúde. O carro enorme, balançando muito, a cadeira em que ele estava parecia deixá-lo aflito. Até entendo que, ao destacá-lo num trono, quiseram valorizar o homenageando,as se ele tivesse vindo acompanhado de amigos (que foram colocados nas laterais do carro, um tanto distantes de dele), teríamos visto um outro Milton, muito mais seguro, interativo e animado. A estrutura em que o colocaram no desfile das campeãs, por exemplo, foi muito mais adequada. Ainda que sozinho, mas estava mais próximo do chão, e com contato com as pessoas aos seus redor. Enfim. Será que somente eu, teria notado isso?
Ao meu ver, um dos maiores erros da minha Portela com o Milton Nascimento foi exatamente, a forma como o colocaram naquele carro alegórico. Ele veio praticamente sozinho. E estava visivelmente inseguro, até por conta de seus problemas de saúde. O carro enorme, balançando muito, a cadeira em que ele estava parecia deixá-lo aflito. Até entendo que, ao destacá-lo num trono, quiseram valorizar o homenageado, mas se ele tivesse vindo acompanhado de amigos (que foram colocados nas laterais do carro, um tanto distantes dele), teríamos visto um outro Milton, muito mais seguro, interativo e animado. A estrutura em que o colocaram no desfile das campeãs, por exemplo, foi muito mais adequada. Ainda que sozinho, mas estava mais próximo do chão, e com maior contato com as pessoas ao seu redor. Enfim. Será que somente eu percebi isso?