Dom Mauro foi o 1° presidente do Consea e lutou ao lado dos miseráveis contra a fome e as injustiças sociais

Morre em BH, Dom Mauro Morelli, o pastor das periferias e dos miseráveis

Antes de se mudar para BH, Dom Mauro passou uma temporada na Serra da Canastra em comunhão com a natureza Foto: Padre Dênis

O Brasil perdeu nesta segunda-feira (9/10), aos 88 anos, o bispo emérito de Duque de Caxias (RJ), Dom Mauro Morelli – o pastor guerreiro que lutou ao lado das minorias da população periférica e dos miseráveis contra a fome e as injustiças sociais.

Fundador e ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Dom Mauro morreu no começo da manhã desta segunda-feira (9) em Belo Horizonte, onde viveu nos últimos anos e passou por várias internações hospitalares devido a complicações respiratórias, decorrentes, segundo ele próprio, da época em que enfrentou a ditadura militar.

“Como interino de Dom Paulo (Evaristo Arns, cardeal de São Paulo), em suas ausências da Arquidiocese, sofri muita tensão no confronto da cidadania com os militares. Somatizei as tensões em prejuízo do meu esôfago. Apesar de tudo, sigo acreditando na vida e não morte”, escreveu na sua rede social (X), em maio deste ano.

Formado em Filosofia e Teologia, Dom Mauro foi o primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. Com o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, ele fundou o Movimento pela Ética na Política, lançou a “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida” e foi o primeiro presidente do Consea, no governo Itamar Franco, de 1993 a 1994, do qual Betinho foi conselheiro. O religioso também liderou o Consea de Minas Gerais e de São Paulo. O Consea é um órgão auxiliar da Presidência da República. Ele chegou a ser extinto por Jair Bolsonaro, mas reinstalado neste ano pelo novo governo Lula.

Dom Mauro foi incansável na luta contra a ditadura militar e a injustiça social. Ao longo de toda a sua trajetória não perdia oportunidade de denunciar as grandes mazelas que atingem os brasileiros, como a fome e os ataques ao meio ambiente.

“Estamos nos tornando seres indesejáveis. O seio da mãe terra que é lugar de vida está se transformando nas entranhas geradoras de morte”, afirmou em depoimento no documentário “A Bolsa ou a Vida”, de Sílvio Tendler.

Dom Mauro foi ordenado sacerdote em 28 de abril de 1965 e nomeado bispo auxiliar de São Paulo, no dia 25 de janeiro de 1965, pelo papa Paulo VI. Escolheu por lema “Vem, Senhor Jesus!”. Durante sua trajetória no episcopado, foi vigário geral da arquidiocese de São Paulo (1975-1981) e membro da Comissão Representativa da Conferência Nacional dos Bispos o Brasil (CNBB).

Exerceu o bispado em Duque de Caxias de 1981 a 2005, quando pediu a renúncia do ministério. Fundou o Instituto Harpia Harpyia – Agência de Defesa e Promoção do Direito ao Alimento e à Nutrição. Em 2014, Dom Mauro foi homenageado pelo Senado Federal com a Comenda Dom Hélder Câmara, pelos trabalhos prestados em defesa da vida.

Em seu discurso, Dom Mauro defendeu a ampliação do Programa Nacional de Alimentação Escolar e disse imaginar um país com educação e nutrição. “Sinto que o Brasil precisa se desenvolver de baixo para cima. Um povo saudável e inteligente e participativo é fundamental para a democracia” afirmou.

Inteligente, culto, destemido e dotado de um humor fino, Dom Mauro impressionava os que tiveram a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente. A despeito de sua enorme e brilhante capacidade intelectual era, talvez, por isso mesmo, uma pessoa extremamente simples. Enfrentou os poderosos instalados na própria Igreja e, sobretudo, aqueles instalados nos governos que se opunham às causas dos mais necessitados. Viajou o mundo e sonhava com uma sociedade mais fraterna e justa, integrada à natureza e livre das chagas da miséria e da fome. Fará muita falta!





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2 respostas

  1. Só corrigindo, Dom Mauro foi o Presidente e fundador do CONSEA No Governo Itamar Franco em 1993.
    O Qual o Betinho era conselheiro.
    Fui Secretária deste primeiro CONSEA.

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