O governador Romeu Zema (Novo) faz publicidade do seu grupo empresarial na página oficial do governo de Minas Gerais (https://www.mg.gov.br/governadoratual), sem estardalhaço, há mais de quatro anos e meio, desde que tomou posse no seu primeiro mandato em 2019. Ele aproveita o espaço privilegiado, destinado à sua biografia, para publicar um texto, que está mais para peça publicitária do que para qualquer outra coisa, para falar bem dos seus diversos negócios.
De maneira astuta, a peça está inserida no espaço “Governador Atual”, reservado à apresentação da biografia do governador. Mas em vez disso, o que se lê são loas tecidas ao Grupo Zema, um negócio gigantesco, com atuação em seis estados e vários segmentos, que espera faturar R$ 2,5 bilhões em 2023.
O conglomerado empresarial-familiar é o foco central do texto de 12 linhas distribuídas em quatro parágrafos. Dez das 12 linhas enaltecem de alguma maneira as empresas dos Zemas.
Censura
Ao mesmo tempo que autopromove os seus negócios, Zema censura informações sobre as biografias dos governadores que o antecederam e que deveriam estar no link https://www.mg.gov.br/galeria-governadores. Todas as informações relativas a eles, estão bloqueadas e são justificadas na página por aviso de “período eleitoral”.
Quem acessar o link e clicar na foto de algum dos 48 ex-governadores irá se deparar com a seguinte mensagem: “Em função do período eleitoral, esta página está indisponível até que o Tribunal Regional Eleitoral oficialize o término das eleições.”
Interessante que o aviso (“período eleitoral”) não consta na página reservada ao próprio Zema, nem na do seu vice Mateus Simões (Novo), apesar de ambos serem candidatíssimos em 2026, de olho no espólio de Jair Bolsonaro (PL).
Zema tenta se viabilizar nacionalmente para um cargo de vice-presidente ou até mesmo de presidente, enquanto Simões, não menos pretensioso, também deixa a imaginação voar alto: quer suceder o próprio Zema no governo estadual.
Justificativa
Se a justificativa que está no site é o “período eleitoral”, por que as biografias de Zema e Simões estão liberadas e a de seus antecessores não estão? Nesse caso, elas poderiam ser consideradas como propaganda antecipada?
O que o governador e seu vice poderiam aproveitar para esclarecer os motivos para censurar a história dos governadores que os antecederam. Seria bom também ouvir o que o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) e o Ministério Público Eleitoral (MPE) têm a dizer sobre tudo isso.
Até governador do século 19 está censurado
Na página “Galeria dos Governadores” estão relacionados os 48 ex- governadores, que vão de Antônio Olinto dos Santos Pires, que governou o estado no longínquo no século 19, até Fernando Pimentel, que antecedeu Zema, e cujo mandato terminou em 2019.
Do total de 48 nomes listados, apenas seis estão vivos: Fernando Pimentel, Alberto Pinto Coelho, Antonio Anastasia, Aécio Neves, Eduardo Azeredo e Newton Cardoso.
Desse grupo, não mais do que três teriam alguma pretensão de disputar um cargo político no momento: Fernando Pimentel, Alberto Coelho e Aécio Neves. Azeredo e Newton Cardoso já penduraram as chuteiras, e Anastasia é ministro vitalício no Tribunal de Contas da União (TCU).
Trecho do texto que está no site oficial
“Em 1991, (Zema) assumiu o controle das Lojas Zema e foi responsável pelo salto que levou a rede varejista de apenas quatro unidades em Minas Gerais a atingir a marca de 430 lojas, incluindo os Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia e Espírito Santo”.
“Apaixonado por gestão e desenvolvimento de pessoas, (Zema) incentivou práticas que se refletem na presença do Grupo Zema no ranking das “Melhores Empresas para se Trabalhar” há 15 anos, de acordo com pesquisas do Instituto Great Place to Work”.
“Atualmente, Romeu Zema é membro do Conselho do Grupo Zema, composto por empresas que operam em cinco ramos: varejo de eletrodomésticos e móveis, distribuição de combustível, concessionárias de veículos, serviços financeiros e autopeças. São 5.000 empregados diretos e aproximadamente 1.500 indiretos. O Grupo Zema é a maior rede a atender prioritariamente as cidades do interior do Brasil com até 50 mil habitantes”.
Se isso não é propaganda…
Por estar em seu segundo mandato, era de se esperar que no texto tivesse ao menos uma linha sobre o seu primeiro governo. De duas uma: ou a política está em segundo plano para Zema ou os quatro anos da sua gestão anterior passaram em branco.